Os Dois Lados do Abismo

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Diante da violência extrema que estamos assistindo com os conflitos, bombardeios, mortes e destruições que entram em nossas vidas através de nossas telas, é impossível não se sentir afetado. Nosso sentimento de tristeza se mistura com a revolta de ser tão limitado e pequeno diante dos fatos, ficamos atordoados e tentamos buscar um culpado, escolher um lado para aliviarmos nossa raiva e deixar fluir aquilo que nos angustia. Seria fácil escolher, caso não se tratassem de irmãos e irmãs que há muitas gerações se desencontraram do perdão e do entendimento. São muitas as feridas abertas que nunca foram tratadas a partir do amor e generosidade. 

Lembrei-me de outras feridas que a discórdia e a segregação causaram. Não pude deixar de pensar na coragem de homens como Nelson Mandela e o Reverendo Desmond Tutu, que estabeleceram a partir da presidência de Mandela um Tribunal de Reconciliação e Perdão para julgar e pacificar as relações entre os ofensores e as vítimas de crimes cometidos durante o Apartheid. Não seria possível manter uma África unida se as pessoas não tivessem tido a oportunidade de se encontrar para ouvir e buscar uma forma de reconstruir a sociedade, a convivência e até mesmo a existência de ambos caso isso não tivesse sido feito. Não era uma anistia pelos crimes cometidos, mas uma retratação pública e esclarecedora dos fatos. Foi preciso muita coragem, uma coragem superior a das lutas e bombardeiros, um movimento que reconhecia no outro sua humanidade, seus erros e buscava genuinamente uma forma de convivência pacífica. Sinto em perceber que não encontramos seres deste nível de nobreza entre os líderes de hoje.

Quando penso na sabedoria desta atitude, imagino em meus devaneios que esta seria uma saída para o recomeço das relações entre Israelenses e Palestinos. Um diálogo respeitoso e com o propósito de reconhecer a humanidade que palestinos e israelenses têm em comum. Todas as vítimas, de ambos os lados, são filhos, filhas, mães, pais e amigos de alguém. Todos sentem as mesmas dores e sofrem imensamente. Se não formos capazes de resgatar nosso sentimento de empatia e irmandade, se não tivermos compaixão e abrirmos nosso coração a todos os envolvidos, não teremos alcançado o nível Humano da existência. Seremos condenados ao fracasso por nossa visão distorcida, nosso distanciamento dos ensinamentos espirituais presentes em todas as religiões, da crença que a vida de todos seres importam. 

Isso seria a constatação do equívoco de Deus no projeto do “ser humano”. Imagino Sua decepção diante de nossas escolhas, certamente ponderaria em nos dar o livre arbítrio na próxima vez. Seria um dia muito triste para o Criador. 

Mas o que fazer então? Estamos perplexos e sem saber como ajudar, fazer a paz sentado no sofá confortavelmente é fácil mas não funciona. Não sabemos ainda o desfecho final deste conflito, mas podemos prever que deixarão marcas sangrentas e se não forem sanadas contaminarão tudo ao seu redor. Isso significa que seu sofá talvez não seja mais um lugar seguro num futuro próximo. 

Vamos ter que nos mexer, colocar nossa energia e preces no sentido da pacificação. Como afirmaria Mahatma Gandhi “Uma gota de compaixão neutraliza o ódio de milhões”. Coloque em suas orações a luz divina do amor, da compaixão e do perdão. Já sabemos que a entrada do inferno é larga, entramos nele através da violência, egoísmo, preconceito, ganância e raiva. Porém a saída para todos os pecados que nos levaram até ali é o perdão. Uma minúscula porta que passa muitas vezes despercebida e ignorada. 

Devemos apelar pela inteligência do coração, acreditar nesta voz superior que nos fala de dentro, ser a Paz que desejamos ver no mundo. Somente salvando-nos a todos, poderemos nos salvar. 

Aspiro que a lucidez, a mansidão e a paz se estabeleçam em breve entre todos os povos.  

Mãos em prece,

Regina Proença

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